sexta-feira, 4 de junho de 2010

De A a Z: o “pai dos burros” e sua grande família

Dia desses, minha mãe causou-me espanto e arrancou-me risadas:
- Maria Hermínia, como é o nome daquele negócio que você coloca aí no computador pra encontrar as coisas?
Ao que titubeei na resposta e ela explicou:
- É que a Lucia (minha madrinha, que está aprendendo a mexer em computador) disse que tem um tal de gugle, que você acha tudo nele.
Apresentei, oficialmente, o Google a ela e, agora, tudo que ela quer descobrir, é no Google que ela me faz pesquisar.

Até tempo desses, as perguntas eram comumente feitas ao Dicionário:
- Que diabo é ósculo?
E o “pai dos burros” (alcunha maldosa) respondia que era um beijo.

O uso de dicionários ainda é comum e, por vezes, se faz por meio do moderno Google. Além de elucidar dúvidas sobre a acepção das palavras, os dicionários podem funcionar como auxiliares nos mais diversos trabalhos.

Isso porque, além dos dicionários gerais da língua, existem diversos outros tipos. Os mais comuns são os bilíngües ou plurilíngües, que trazem os vocábulos estrangeiros e seu correspondente em língua vernácula. Além deles, existem também Dicionários Etimológicos (trazem a origem das palavras), Dicionários Analógicos (reúnem palavras de mesmo campo semântico) e Dicionários de Abreviaturas.

Há, ainda, a compilação em ordem alfabética de termos de áreas específicas: são os Dicionários Temáticos. São inúmeros os exemplos: dicionários de fonética, de fotografia, financeiro, de nomes próprios, etc. Dentre eles, destaque para o Dicionário de Termos Literários, de Massaud Moisés e o Dicionário Filosófico, de Voltaire.

Vejo com freqüência pessoas procurando sinônimos para as palavras. Pois, há dicionários para isso também: são os Dicionários de Sinônimos. Seus companheiros são os Dicionários de Antônimos e os de Homônimos.

Todos esses são bons auxiliares nos estudos e na elaboração de textos e trabalhos, sendo, portanto, boas aquisições para sua estante. Entretanto, seria inviável carregar consigo meia dúzia desses ajudantes de peso, por isso, apresento aqui algumas das versões Online:

Dicionário Geral: http://www.priberam.pt/dlpo/
http://michaelis.uol.com.br/
Dicionário de Sinônimos (e antônimos): http://www.dicsin.com.br/content/dicsin_lista.php
Dicionário Plurilíngüe (tradutor): http://translate.google.com.br/#
Dicionário Eletrônico de Termos Literários: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/

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CURIOSIDADE:

Como foi visto, a família de dicionários é grande. Uma espécie de tataravô do nosso Aurélio é o Vocabulario Portuguez e Latino, do início do século XVIII, que é o primeiro dicionário da língua portuguesa. O dicionário raro pode ser encontrado no site do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (http://www.ieb.usp.br/).

Em ordem alfabética:
http://www.youtube.com/watch?v=C6zkMnLeFmU

domingo, 23 de maio de 2010

Gracinha concreta


A de amor, B de baixinho, C de coração, D de docinho... E o alfabeto concreto de Millôr Fernandes:

http://www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/001/001.htm

Alguns destaques: Candice riu do W, os vês siameses. O z minúsculo os membros do Meupal* já sabiam o que era. O Y, que desapareceu do alfabeto porque se entregou covardemente, de braços pra cima, foi recolocado no alfabeto português: o acordo ortográfico perdoou os desertores.
*Movimento Estudantil Unificado Pró-álcool.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Maior que o beijo









O Orkut já contou para todos que o Zé está namorando (o Zééééééééé? :O). Apesar de ter nascido na Paraíba, Zé é bem cearense e, como tal, a partir de agora, arroxa* apenas uma mulher. Da mesma forma, o Rachid, meu “sobrinho” maranhense, também só anda fazendo saliências com sua digníssima. Já o sergipano Vinícius, não sei o que anda fazendo, mas me contou que o sergipano que diz que “tava gastando ali com fulana” é porque aprontou bastante.

E o que faz o “cearense” arroxar, o maranhense fazer saliência e o sergipano gastar? Antes que você pense besteira (o que não configuraria, necessariamente, um erro), já respondo: é a diversidade lingüística.

O estudo dessas diferenças, que podem ser facilmente percebidas em nosso dia-a-dia, é antigo: em 1826, a pedido do geógrafo Adrien Balbi, Visconde de Pedra Branca registrou alguns dados lexicais de algumas regiões brasileiras. Os dados ajudaram a compor o Atlas Ethographique Du Globe. O assunto só veio a ganhar destaque a partir do século XX, com Amadeu Amaral (com O dialeto Caipira, 1920), Antenor Nascentes (com O Linguajar Carioca, 1922) e Mario Marroquim (com A Língua do Nordeste, 1934).

Que o Zé arroxa, o Rachid faz saliência e o Vinícius gasta já se sabe, o que nem todo mundo sabe é que o português falado no Brasil vem sendo mapeado e transformado em Atlas. Sabe aqueles textos que nos arrancam gargalhadas, dizendo:
“Cearense não diz que o cara é gente boa... ele diz que o cara é "pai d'égua"!”
“Cearense não dá volta... ele arrudêia!”
“Cearense não é homem... ele é macho ou é cabra bom!”
“Cearense não pede licença... ele diz " Ó o mei "!”

Pois os tais textos de humor têm sua versão séria. A idéia surgiu, em 1952, com Antenor Nascentes. Onze anos depois, nascia o Atlas Prévio dos falares Baianos, de Nelson Rossi e colaboradores. De lá pra cá, outros trabalhos surgiram, como o Atlas de Minas Gerais (1977), Paraíba (1984), Sergipe (1987), Paraná (1994), Região Sul (2002) e Amazônas (2004); e outros estão em andamento: Rio de Janeiro, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Rio Grande do Norte e Esirito Santo.

O mais recente desses trabalhos é o Atlas Linguístico do Estado do Ceará – ALECE, que será lançado HOJE, às 19h, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Maiores informações: http://www.ufc.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=9794&Itemid=1

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Para ler mais sobre o tema: Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa Nº20.
* Eu bem sei que o “arrocho” que tá no dicionário é com CH, mas, em cearês, o “arrocho” é com CH ou com X? A Internet me contou que é com X. Usei o X, não por causa do renomado gramático Google, mas, porque X lembra um abraço... E a gente bem sabe que o arroXo é um abraço bem gostoso, oura! ;)

Serviço:
Lançamento do Atlas Linguístico do Estado do Ceará – ALECE
Dia: 20 de maio de 2010 (HOJE)
Horário: 19h
Local: auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará

terça-feira, 18 de maio de 2010

O primeiro beijo e...

... O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR

O meu primeiro beijo foi o, necessário, ponto de partida; já o primeiro beijo da Clarice, fica para deleite e serve de mote para divulgar o curso que começou hoje no CCBNB-Fortaleza: O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR.
Invertendo a ordem romântica, vamos começar pelo beijo e deixar o olhar para depois... Que pouca vergonha, este blog ainda está construindo sua personalidade e já me aparece assim: depravado (não bastasse chamar-se “Beijo de Língua”...).

Primeiro, o beijo:


“Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:- Sim, já beijei antes uma mulher.- Quem era ela? perguntou com dor.Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.Ele a havia beijado.Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...Ele se tornara homem.”


- O Primeiro Beijo, Clarice Lispector (In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998) –



Agora, pode olhar:




A fim de construir uma visão panorâmica da produção da poetisa, que, se fosse viva, completaria 90 anos em dezembro, o curso O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR acontece até o dia 21 de maio (sexta-feira) no Centro Cultural Banco do Nordeste e traz a seguinte programação:



1º dia: Panorama da obra de Clarice Lispector a partir dos gêneros: uma escritura e o olhar sobre o mundo.


2º dia: O olhar sobre a mulher através de contos e crônicas.


3º dia: O olhar sobre os problemas sociais do país através de crônicas, entrevistas e cartas.


4º dia: O olhar encantado sobre a criança através de contos e literatura infantil. Os diversos outros olhares da escritora.
FACILITADOR: Miguel Leocádio Araújo Neto

Serviço:


LOCAL: Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108)


DATA: 18 a 21 de maio (terça-feira a sexta-feira)


HORÁRIO: das 15 às 18 horas
GRATUITO


INSCRIÇÕES ABERTAS: desde o último dia 4 de maio

Fonte: http://paginasefolhas.blogspot.com/2010/05/o-olhar-obliquo-de-clarice-lispector.html



PS: dica enviada por minha colega Suelen Valetim via E-mail. Grata! =)

O primeiro beijo




Se o “primeiro” não tivesse tanto peso e começar não fosse tão difícil, esse começo já teria começado há mais tempo. Se fosse uma dieta, começaria segunda-feira, como é um texto, e texto isto já é, começo agora. E já findo! Os entendimentos, as explicações e as satisfações vêm depois. É assim em todo primeiro beijo.