domingo, 23 de maio de 2010

Gracinha concreta


A de amor, B de baixinho, C de coração, D de docinho... E o alfabeto concreto de Millôr Fernandes:

http://www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/001/001.htm

Alguns destaques: Candice riu do W, os vês siameses. O z minúsculo os membros do Meupal* já sabiam o que era. O Y, que desapareceu do alfabeto porque se entregou covardemente, de braços pra cima, foi recolocado no alfabeto português: o acordo ortográfico perdoou os desertores.
*Movimento Estudantil Unificado Pró-álcool.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Maior que o beijo









O Orkut já contou para todos que o Zé está namorando (o Zééééééééé? :O). Apesar de ter nascido na Paraíba, Zé é bem cearense e, como tal, a partir de agora, arroxa* apenas uma mulher. Da mesma forma, o Rachid, meu “sobrinho” maranhense, também só anda fazendo saliências com sua digníssima. Já o sergipano Vinícius, não sei o que anda fazendo, mas me contou que o sergipano que diz que “tava gastando ali com fulana” é porque aprontou bastante.

E o que faz o “cearense” arroxar, o maranhense fazer saliência e o sergipano gastar? Antes que você pense besteira (o que não configuraria, necessariamente, um erro), já respondo: é a diversidade lingüística.

O estudo dessas diferenças, que podem ser facilmente percebidas em nosso dia-a-dia, é antigo: em 1826, a pedido do geógrafo Adrien Balbi, Visconde de Pedra Branca registrou alguns dados lexicais de algumas regiões brasileiras. Os dados ajudaram a compor o Atlas Ethographique Du Globe. O assunto só veio a ganhar destaque a partir do século XX, com Amadeu Amaral (com O dialeto Caipira, 1920), Antenor Nascentes (com O Linguajar Carioca, 1922) e Mario Marroquim (com A Língua do Nordeste, 1934).

Que o Zé arroxa, o Rachid faz saliência e o Vinícius gasta já se sabe, o que nem todo mundo sabe é que o português falado no Brasil vem sendo mapeado e transformado em Atlas. Sabe aqueles textos que nos arrancam gargalhadas, dizendo:
“Cearense não diz que o cara é gente boa... ele diz que o cara é "pai d'égua"!”
“Cearense não dá volta... ele arrudêia!”
“Cearense não é homem... ele é macho ou é cabra bom!”
“Cearense não pede licença... ele diz " Ó o mei "!”

Pois os tais textos de humor têm sua versão séria. A idéia surgiu, em 1952, com Antenor Nascentes. Onze anos depois, nascia o Atlas Prévio dos falares Baianos, de Nelson Rossi e colaboradores. De lá pra cá, outros trabalhos surgiram, como o Atlas de Minas Gerais (1977), Paraíba (1984), Sergipe (1987), Paraná (1994), Região Sul (2002) e Amazônas (2004); e outros estão em andamento: Rio de Janeiro, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Rio Grande do Norte e Esirito Santo.

O mais recente desses trabalhos é o Atlas Linguístico do Estado do Ceará – ALECE, que será lançado HOJE, às 19h, no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará. Maiores informações: http://www.ufc.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=9794&Itemid=1

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Para ler mais sobre o tema: Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa Nº20.
* Eu bem sei que o “arrocho” que tá no dicionário é com CH, mas, em cearês, o “arrocho” é com CH ou com X? A Internet me contou que é com X. Usei o X, não por causa do renomado gramático Google, mas, porque X lembra um abraço... E a gente bem sabe que o arroXo é um abraço bem gostoso, oura! ;)

Serviço:
Lançamento do Atlas Linguístico do Estado do Ceará – ALECE
Dia: 20 de maio de 2010 (HOJE)
Horário: 19h
Local: auditório da Reitoria da Universidade Federal do Ceará

terça-feira, 18 de maio de 2010

O primeiro beijo e...

... O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR

O meu primeiro beijo foi o, necessário, ponto de partida; já o primeiro beijo da Clarice, fica para deleite e serve de mote para divulgar o curso que começou hoje no CCBNB-Fortaleza: O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR.
Invertendo a ordem romântica, vamos começar pelo beijo e deixar o olhar para depois... Que pouca vergonha, este blog ainda está construindo sua personalidade e já me aparece assim: depravado (não bastasse chamar-se “Beijo de Língua”...).

Primeiro, o beijo:


“Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:- Sim, já beijei antes uma mulher.- Quem era ela? perguntou com dor.Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.Ele a havia beijado.Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...Ele se tornara homem.”


- O Primeiro Beijo, Clarice Lispector (In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998) –



Agora, pode olhar:




A fim de construir uma visão panorâmica da produção da poetisa, que, se fosse viva, completaria 90 anos em dezembro, o curso O OLHAR OBLÍQUO DE CLARICE LISPECTOR acontece até o dia 21 de maio (sexta-feira) no Centro Cultural Banco do Nordeste e traz a seguinte programação:



1º dia: Panorama da obra de Clarice Lispector a partir dos gêneros: uma escritura e o olhar sobre o mundo.


2º dia: O olhar sobre a mulher através de contos e crônicas.


3º dia: O olhar sobre os problemas sociais do país através de crônicas, entrevistas e cartas.


4º dia: O olhar encantado sobre a criança através de contos e literatura infantil. Os diversos outros olhares da escritora.
FACILITADOR: Miguel Leocádio Araújo Neto

Serviço:


LOCAL: Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108)


DATA: 18 a 21 de maio (terça-feira a sexta-feira)


HORÁRIO: das 15 às 18 horas
GRATUITO


INSCRIÇÕES ABERTAS: desde o último dia 4 de maio

Fonte: http://paginasefolhas.blogspot.com/2010/05/o-olhar-obliquo-de-clarice-lispector.html



PS: dica enviada por minha colega Suelen Valetim via E-mail. Grata! =)

O primeiro beijo




Se o “primeiro” não tivesse tanto peso e começar não fosse tão difícil, esse começo já teria começado há mais tempo. Se fosse uma dieta, começaria segunda-feira, como é um texto, e texto isto já é, começo agora. E já findo! Os entendimentos, as explicações e as satisfações vêm depois. É assim em todo primeiro beijo.